terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Corvo

Caramba, tantos dramas pessoais no ultimo ano e me vi absolutamente fechada em compartilha-los aqui.

Independente disso. estava cá a pensar em Allan Poe.

O CORVO
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará jamais.

E o rumor triste, vago, brando,
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto e: "Com efeito
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minha alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora -
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse: a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta:
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro co'a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais tarde; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma coisa que sussurra. Abramos.
Ela, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso.
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela e, de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre Corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
Movendo no ar as suas negras alas.
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo - o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais:
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Coisa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta,
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é o seu nome: "Nunca mais."

No entanto, o Corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais."

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao Corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera.
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais."

Assim, posto, devaneando,
Meditando, conjecturando,
Não lhe falava mais; mas se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava,
Conjecturando fui, tranqüilo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto,
Onde os raios da lâmpada caiam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso.
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: "Existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No Éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais.
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fica no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua,
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o Corvo disse: "Nunca mais."

E o Corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!


trad. Machado de Assis - 1883
Edgar Allan Poe

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pequenas maravilhas...



Uma vez, aqui nesse mesmo blog abandonado, eu fiz referência a uma citação que eu gosto muito e que acredito muito verdadeira...




"Compreendi que a vida não é uma sonata que,
para realizar sua beleza, tem que ser tocada até o fim.
Dei-me conta, de que a vida é um álbum de minissonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e de amor
justifica a vida inteira."



Obrigada pelo almoço mais "comum" e maravilhoso que poderiamos ter.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Você foi muito mais.

Fico aqui deitada pensando " por que não procurou ajuda?"
ao mesmo tempo que me martela incansavelmente " por que não estive la?"

Talvez tenha pedido ajuda, a verdade é que nós não ligamos para os pedidos de "resgate-me" de alguém. Too much drama, todos dizem, a verdade é que nesse mundão de desesperos e desencontros estamos tão egocentricamente concentrados em nossos próprios rabos que nem ao menos ouvimos um apelo.tirar 40 segundos do seu tempo para conseguir fazer senso do que escutou? inconcebível não?

A misturinha estranha de raiva, pena, culpa, confusão e tristeza fica comigo, e tudo o que eu consigo ver é a imagem de nós dançando michael pelos corredores...não é fácil saber que não há possibilidade disso acontecer mais. E me doi tanto saber como foi. você merecia mais meu caro, você foi muito mais.

Não há dignidade na morte - alguém disse.

Ela é assim...leviana, ardilosa e irreversível. Você merecia mais.




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Elizabeth Gilbert

“In desperate love, it’s always like this, isn’t it? In desperate love, we always invent the characters of our partners, demanding that they be what we need of them, and then feeling devastated when they refuse to perform the role we created in the first place.

(...)

when the object of your affection bestows upon you a heavy hallucinogenic dose of something you've never even dared to admit you wanted. An emotional speedball of thunderous love and excitement. Soon you start craving that attention with the hungry obsession of any junkie. When it's withheld, you turn sick, crazy, not to mention resentful of the dealer who encouraged this addiction in the first place but now refuses to pony up the good stuff. Goddamn him, and he used to give it to you for free.


Next stage finds you skinny, shaking in a corner certain only that you'd sell your soul just to have that thing one more time. Meanwhile the object of you adoration is now repulsed by you. He looks at you like someone he's never met before. Irony is you can hardly blame him. I mean, check yourself out. You're a mess. Unrecognizable even to your own eyes.
You have now reached infatuation's final destination. The complete and merciless devaluation of self."

-eat.pray.love



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Stream of Life

The same stream of life
that runs through my veins night and day
runs through the world
and dances in rhythmic measures.

It is the same life
that shoots in joy through the dust of the earth
in numberless blades of grass
and breaks into tumultuous waves of leaves and flowers.

It is the same life
that is rocked in the ocean-cradle
of birth and of death,
in ebb and in flow.

I feel my limbs are made glorious
by the touch of this world of life.
And my pride is from the life-throb of ages
dancing in my blood this moment.


Rabindranath Tagore

sexta-feira, 17 de junho de 2011

chata como sempre

ohhh Gosh! como eu sou chata.
será que nunca estarei satisfeita?

um amigo me deu o melhor conselho.
-SUCK IT UP.

e ele está certo. quem foi que disse que o hedonismo funciona na prática?
engula essa e continue rolando os dados.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Vandross

'A chair is still a chair
Even when there's no one sitting there
But a chair is not a house
And a house is not a home
When there's no one there to hold you tight,
And no one there you can kiss good night.

A room is still a room
Even when there's nothing there but gloom;
But a room is not a house,
And a house is not a home
When the two of us are far apart
And one of us has a broken heart.

Now and then I call your name
And suddenly your face appears
But it's just a crazy game
When it ends it ends in tears.

Darling, have a heart,
Don't let one mistake keep us apart.
Whatever I'm not meant to live alone.
Turn this house into a home.
When I climb the stair and turn the key,
Oh, please be there still in love with me.'


A House is Not a Home - Luther Vandross


só porque tem uma semana que não consigo parar de ouvir essa música!